O meu nome é Esperança,
e eu sempre estou presente na realização dos sonhos. Uma das minhas funções é
distribuir os dons às crianças. Embora essa seja uma tarefa fácil e prazerosa,
ocasionalmente podem surgir alguns problemas durante as entregas.
Certa vez, eu estava em
pleno voo, segurando a cestinha com os copinhos rotulados, quando uma
tempestade desabou de repente. Minhas asas ficaram ensopadas, perdi o
equilíbrio, soltei a cestinha sem querer, e o vento carregou-a e derrubou-a no
chão, espalhando as sementes.
De que adiantavam os rótulos
com os nomes das crianças a quem cada semente deveria ser entregue, se as
sementes já não estavam mais em seus respectivos lugares?!... Elas pareciam
todas iguais, e eu jamais conseguiria descobrir a que dom correspondiam!... Só
me restava colocar as sementes nos copinhos aleatoriamente.
Quando cheguei à
maternidade, coloquei uma semente na boca de cada bebezinho!... Essa é sempre a
melhor parte: Ao me ver voando, a criança sorri, e eu aproveito a ocasião para
colocar, em sua boquinha, a semente que começará a germinar para dar origem às
suas asas invisíveis. O único problema era a troca das sementes... Cada um dos
bebês possuía uma vocação latente, que talvez não correspondesse com a
habilidade em forma de semente que ele estava recebendo.
Eu sou uma fada muito
ocupada e não disponho de tempo para ficar contando histórias... Mas, já que comecei,
mencionarei apenas um caso em que a troca ficou evidente...
Jorge e José, dois
irmãos gêmeos, em vez de agradecerem o dom que haviam recebido, ficavam um
invejando o trabalho do outro, e suas asas permaneciam encolhidas.
Jorge desenhava muito
bem e vivia reclamando que não possuía o dom das palavras. José, por sua vez,
escrevia textos que, para ele, não faziam o menor sentido... Ele daria tudo
para desenhar como Jorge. Os dois não conseguiam ser amigos, porque um invejava
o dom do outro. O desânimo e a insatisfação frequentemente os abraçavam.
Eles teriam permanecido
eternos rivais, se Jorge não tivesse dito: “Você ama desenhar, e eu amo
escrever. Mas, por ironia do destino, eu desenho melhor do que você, e você
escreve melhor do que eu. Poderíamos tentar nos ajudar mutuamente... Somos
gêmeos idênticos, e as pessoas nunca sabem se estão falando comigo ou com você.
Trocaríamos de lugar: Você frequentaria o meu curso de Desenho, e eu faria os
seus trabalhos de Redação.”.
José exclamou: “Isso não
dará certo, porque eu desenho muito mal, e você comete erros imperdoáveis de
ortografia e concordância!... Ambos seremos reprovados!...”.
Jorge insistiu: “Não, se nos ajudarmos
mutuamente: Eu oriento você nos desenhos, e você revisa os meus textos.”.
José concordou, e a
rivalidade que havia entre os dois desapareceu para dar lugar à cooperação e à
amizade sincera. Eles conseguiram conquistar e aprimorar o dom que tanto
amavam. Jorge começou a se expressar através de palavras que fluíam deliciosamente...
E José passou a se abster de palavras porque, para ele, a linguagem do Desenho
era mais concisa e atraente.
Eles não sentiam o
tempo passar quando se entregavam à fascinante descoberta do que eram capazes
de realizar... Suas asas, pouco a pouco, foram se fortalecendo, e permitiram
que eles voassem guiados por seus sonhos.
Jorge e José tiveram a
felicidade de descobrir que a realização dos sonhos não reside no futuro e sim naqueles
momentos em que a ação e o coração vibram em uníssono, e o tempo deixa de
existir.
Texto: Sisi Marques
Arte: Felipe Farias
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